sexta-feira, 27 de junho de 2008

made in babylon

Meu novo protótipo é abandonar os chips, as regras e nome da familia. Já vivi mentiras e jurei por elas. Agora assumo os pecados. É tão difícil se comportar as regras; bem, na verdade difícil mesmo é fazer o que temos vontade. Não tive tudo que quis. Nem calo mais minha boca pra dizer o quero. Rompi tratados. Traí os ritos. Agora. Aborto certas convicções. A bordo demônios e munias. Flagelo-me. Exponho cicatrizes. O ser vil que passou para servir para disservir, cansado de ser caça (quero ser o caçador). Opa! Depois de Teatro e Zeca...agora sim eu falo. Falo que aceito o pacto. Que quero agora a 'fruta inteira'. Mereço um lugar ao sol. E já citando Cazuza, 'chamam de ladrão, de bicha, maconheiro'. Busco o tal amor com sabor de fruta mordida - que me falta. O que tenho é a maçã que me engole, rio que corre em veias mansas dentro de mim. Ando assim meio pirado. Pirado. Ando assim meio de viés, como o malandro barão da ralé.


Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
Que rolaram nos cabarés
Entre deusas e bofetões
Entre dados e coronéis
Entre parangolés e patrões
O malandro anda assim de viés
Deixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão
Deixa a praça virar um salão
Que o malandro é o barão da ralé

Fama de porra-louca, tudo bem!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

si je vais ou si je suis


Um ponto final é um fim
Três são uma continuidade
Tempo de dar colo, tempo de decolar.
é preciso saber a hora de partir
é preciso chegar e abandonar a bagagem
extraviar os fardos, as dores
é preciso também voltar
voltar pro castelo
procurar o amor na torre mais alta
mas pra ver se te esperou
é preciso antes partir


Filho de sol poente
Quando teima em passear
desce de sal nos olhos doente da falta de voltar
vim só dar despedida, mas eu te amo
e na verdade não quero partir


quarta-feira, 18 de junho de 2008

La vie en rose II

Um dia acordo e percebo que o mundo começa a ficar da cor que eu sempre quis dar pra ele. Mas, o mundo ao meu lado começa a estranhar o novo sorriso que pintei ao meu rosto...


Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com aquilo que fomos
E aquilo que somos nós
( o Teatro Mágico)


Mudar. Todos almejamos isso. Mais ainda; planejamos, sonhamos. Tentamos mudar com o mundo de uma hora pra outra; funciona no primeiro dia...no segundo. No terceiro já sorrimos pra quem não queríamos ou choramos as lágrimas de quem [também] não queríamos. Não mudamos até que mudem a gente. É isso que acontece. Somos mutáveis, atingíveis. E por pior que isso venha a ser para as outras pessoas, pra você isso sempre vai ser bom. E quem aceita isso é quem te merece.
Todo ego tudo se permite, venha a nós. À vos - fica esquecido, cego-surdo-mudo.
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requer sacrifícios

segunda-feira, 16 de junho de 2008

La vie en rose

Escrever sobre a vida, o mais profundo infinito dos poetas, dos bêbados e dos desocupados. Acho que para falarmos de vida a gente tem que primeiro aprender a morrer. Romper os fardos, acabar com tudo aquilo que fomos. Todo bem que nos fizeram e todo mal. A resposta pra 'o que é a vida' é aquele lapso de segundo em que a mente dá um branco, gira em torno do nada. Não pensa. Nada. Depois a gente completa a mente e se se sente completamente interrogativo. Passamos horas dos nossos dias fazendo o que não nos faz sentido. É porque nascemos uma folha em branco onde todo mundo rabisca - não conseguimos distinguir nossas próprias escritas de todo o resto. Aí, um dia caímos no mar sem saber nadar, no mais profundo abismo do próprio eu; e lá encontramos uma maneira de viver a vida, de enxerga-la de uma outra cor. Maneira de escrever em nossa folha o roteiro que quisermos, com os personagens que escolhemos. Fazemos nossa trama, nosso espetáculo.

a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser


sábado, 14 de junho de 2008

héritage ~

Posso me acomodar e ser como todo mundo. Posso entrar na faculdade visando o mercado de trabalho e essa coisa toda de ganhar dinheiro. Ou então posso fazer como todos que tem uma história pra contar fizeram...

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Sean, seu pai quer lhe contar sobre a sua vida. Quero falar sobre como as coisas tem que ser. Você tem que parar as brincadeiras e começar a estudar. Eu estudei muito pra entrar na faculdade. Não esta fácil conseguir um emprego e ganhar o que eu ganho hoje. Foram 4 anos de diversão e dedicação. Quero que você se prepare pra isso. Largue essa banda, largue as telas e tintas e o palco. Pegue um livro.

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Sean, seu pai quer lhe contar sobre toda a sua vida. Filho, eu não pensava como os outros. Não aprendi a me alimentar de competições e de dinheiro. Aprendi a me alimentar de palmas. Um dia larguei tudo e vim pra cá. Decidi pintar a cara e subir num palco. Alimentei a alma, nutri o espírito. Larguei os cálculos, fiz teatro. Vivi a minha vida, a de meus personagens. Vi que o mundo era pequeno, carnavalisei, caetaniei - conheci o universo na rua.

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De qualquer forma construímos histórias. Só que uma mais interessante que outra. Eu sei o que o meu guri vai preferir. Se são 50 centavos pela questão de matemática ou por encenar na porta do cursinho. Se é ter a mesma herança que todos os seus amigos - ou e é ter orgulho do homem que chama de PAI enquanto os outros gritam: bravo! bravo!

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Sean, o mundo é bem maior que isso. Tem que se passar pela casca pra chegar ao doce. Vamos, agora me deixe só. Digo que não vá, só para que quando você saia possa contar que fugiu. Da luta não se retire!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

la roue, tourne!

Desculpas aos viajantes à Camelot pelo texto abaixo não conter lições, frases ou qualquer das outras coisas admiráveis que dizem conter nos demais.Mas, se souberem, podem achar mais do que isso no que escrevo aí logo abaixo.

Depois das truculentas e esmagadoras semanas vejo que, aos poucos, posso viver sem 4 ou 5 pessoas. E vi que quando algumas se vão outras aparecem preenchendo alguns vazios - que deixariam Lacan de cabelo em pé. "Quem não me ama, não me merece", Anita grita isso nos meus ouvidos todos os dias. Posso finalmente conhecer outros planetas, sem flores, vulcões e afins. E o melhor, não me faz falta. Não preciso de pessoas que me evitam quando estou mal e não posso animar suas noites como um bobo da corte. Agora a prendi a ser como a maioria, dizer 'te amo' sem amar, dizer que sinto saudades sem sentir - aprendi a ser egoísta. Isso é muito bom.
Sei que vão me chamar de idiota e de um monte de coisas, e já dou risada por antecipação.
As três pessoas que fizeram de tudo pra me irritar, não irritaram e hoje se revoltam comigo por ter sido indiferentes à elas.
Sinto por não ter sido engraçado, porque não ter um Visa Electron ou por não ter ficado chateado pelo bolo que planejaram me dar. Sinto por ter me divertido, rido, fumado e bebido sem precisar de ninguém ali. Como achavam que eu dependeria.
Pra falar a verdade eu não sinto mesmo. ha ha ha. Tô sendo irônico. Acho engraçado.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

définir l'amour

Escrito, por um grafitti, em um muro em Buenos Aires:


“Se amas alguém, deixa-o em liberdade.
Se ele voltar, foi porque precisou.
Se ele não voltar, foi porque precisou”.


segunda-feira, 9 de junho de 2008

blackout II: l'amis

Eis que quando sua luz apaga os pequenos vaga-lumes que lhe faziam companhia voam pra longe. Um a um. Os mais amados, os com mais brilhos. Eles não deixam de ser bem vindos, sua área de pouso quase sempre existirá pra sua volta. Quase. Dizem que os melhores ficam...bobagem. Ninguém quer escuridão por perto. Quando tua luz se acender novamente o celular voltará a tocar, a campanhia, a buzina. Mas se ela não se acende, todos levantam vôo. A única verdade que fica é teu espelho. Verdadeiro como ninguém. Te reflete só. Te reflete como és. É verdade. É o jogo de quem fica e vale; e quem vai, se esvai. É sozinho que vim ao mundo, e é em auto-suficiência que dele partirei! A gente compartilha de momentos, não de alma. E daqui meu reflexo me mostra que meu poço foi cavado pelos mesmos operários que ergueram meu castelo. Seja de sangue ou de alma - eu agora abandono. Chamo de nada. Ossos do ofício. É o meu velho vicio de sonhar. Pular de precipício em precipício.

Menino Deus, quando tua luz se acenda
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve

sábado, 7 de junho de 2008

blackout

As melhores coisas da vida. Não sei se é ficar parado, sozinho em meu vegetativo silêncio ou se é fugir pra vida. Dar nome aos paralelepípedos da rua, virar o copo de vinho no maior acorde da música, fazer sangue ser derramado numa cama, usar gírias feias e fazer uma cara de smyle a meia-noite na rua. As piores coisas da vida. É não ser melhor amigo do tempo, é ver que pra você pessoas ficam e pra elas você se foi. É ser o que você grita não ser atrás do personagem modesto do dia-a-dia. É saber que todos sabem falar e ninguém escutar.
Essa é minha promessa de desabafo sendo cumprida. É que acho tudo pouco. É que fui mal criado e não me contento com nada do que possam me oferecer. Me revolto. Faço mal a mim mesmo e [acho que] ninguém mais. Hoje eu peço que falem, que digam. Ouço a reprovação de um tolo, já sei que um elogio soberano. [Obrigado Blake]. Posso dizer que sinto pena dos que me perdem, mas mentiria. Sinto pena de mim por não compartilhar da falsidade-civilizada que impera por trás dos sorrisos na mesa. Talvez trocaria o muito que tenho - e de que pouco uso - pra ser só mais um. Mas essa resposta seria a mais difícil e a única que eu não responderia caso me perguntassem. É que eu assumo meus erros, e o pior deles é achar que não erro. é achar que todos estão errados em relação a mim. Só que o resto do mundo é maioria [ por mais que quantidade seja diferente de qualidade /lixa]. E saber disso também não muda nada.
O que sei é que fui parar na escuridão. Sem luz no fim do túnel. Aprendi a usar o tato pra sobreviver. Mas é que ficam marcas, hematomas, feridas. Vou me abandonar lá dentro, quando uma porta for aberta - não reconhecerei o que de lá vai sair.
E agora me calo. É preciso saber a hora.

être comme la rivière quoi coule

“Ser como o rio que flui
silencioso no meio da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se enchem de nuvens
como o rio,
as nuvens são água;
refleti-las também, sem mágoa,
nas profundidades tranqüilas”.

(Manuel Bandeira)


Ser como o rio que flui é seguir seu seu caminho normalmente. Manter o silêncio no meio da noite é não nos queixar das dificuldades, não gritar. Não atrapalhar os outro córregos. Não temer as trevas da noite, não tendo medo das dificuldades é que saímos de nossa nascente. E, se há estrelas no céus refleti-las, eis que Bandeira fala das boas ações - se existem devem ser repetidas. Como as nuvens, refletir em sua face as suas mágoas. Faz parte. Efim, sem como o rio que flui!


quarta-feira, 4 de junho de 2008

tous les jours

Todo dia. Dia de sair atrasado, e de ter uns 9 minutos pra percorrer alguns marcantes quarteirões. Saio com pressa e passei a esquecer o mp4. Fecho a porta de casa pensando na música que vai me acompanhar pelo caminho. Vou cantando mentalmente até passar por perto de uma casa que ja apelidei de 'africa'. Sei que lá mora um pai e varias crianças entre 3 e até uns 12 anos. Todos negros, de cabelo raspado, tomando café na varanda de casa enquanto o pai lá de dentro estoura uma raggae jamaicano no volume do som. O mais velho sempre esta roubando os menores num jogo de gude traçado no jardim. O mais novo esta sempre pelado comendo num prato de plástico azul claro, mas o que ele quer mesmo é brincar com a colher de gente grande. Quando paro de ouvir a estrondante música, volta pra minha mentalmente. A intenção é esquecer tudo pelo caminho, tentar começar o dia bem. Depois passa por mim - sempre - uma senhora japonesa numa bicicleta com a mesma expressão de quem vai dar um sorriso ou sei lá. Comprimento ela com a cabeça, ela me olha e continua com a mesma face. Sempre. Então viro uma esquina e o sol já esta refletindo bastante na rua, esta tudo bem mais claro. Confiro as horas. Aperto o passo. Volto pra minha música. Começo a 'viajar', como dizem. Nessas ultimas ruas - não sei porque - é a hora mais destraida dos meus dias. Lembro de todas as pessoas que já não merecem ser lembradas. E, ultimamente são muitas. Depois tem o cara do mototaxi numa esquina, sempre ali. No começo ele me via com pressa e perguntava se queria tomar o 'taxi' - eu dizia que faltava apenas três ruas. Hoje nem nos falamos mais. Tem também uma barraca de jogo bicho ou números...essas coisas. Tem sempre alguém discutindo os números com a mulher da venda. Hoje ouvi algo sobre 07 e 19. Daí em diante fico perto do meu caminho, começo a pensar nas pessoas que vou encontrar lá...se tenho alguma coisa pra falar. Problemas pra resolver. Os problemas de lá são tão pequenos comparados aos do começo do caminho. Nessa hora o passeio é péssimo e todo quebrado. Aí então vem o piso do passeio de uma venda qualquer, nitidamente anti-derrapante. Mas vai se arriscar a passar por ali contudo, não! não! Escorrega mais que casca de banana. Me seguro. Olho a hora e já deu 7 ou passou alguns minutos disso. Aí conserto a coluna, levanto o pescoço e enrolo alguns cachos do cabelo porque é hora de passar por alguns mal-encarados do colégio [quase] vizinho. Atravesso a rua, já não penso em mais nada. Comprimento o velho da sorveteria, olho o cabelo no vidro fume da porta e finalmente começo a acordar. Só então começo a acordar.

domingo, 1 de junho de 2008

un autre point de vue

Saber olhar pra si como sendo uma outra pessoa. Calar-se, sair do corpo e se olhar/observar de um outro ângulo. Não é loucura (ou talvez seja - não sei) ou coisas que a gente pensa quando não esta muito bem ou quando não tem o que fazer num domingo chuvoso de muito sol (sim, isso é possível). Na verdade eu descobri que isso se trata de uma arte hindu a qual eles chamam de “yoga da inação”. Observar nossos movimentos, nossa voz e reações. Um outro ponto de vista. Assim nossos problemas parecem ser como são: menores do que imaginávamos. Ou nenhum. Essa é mais uma daquelas coisas que você se agarra e testa depois de achar que nada funciona com você, só com os outros.