domingo, 30 de maio de 2010

Do lado de lá



Aqui a lua e algumas dezenas de nuvens estão a pintar uma tela em papel de pedaço de céu. Quanto aí eu não sei como andam as paredes. O vento parece fazer sinfonia com instrumentos folhas. Eu não entendo as notas verdes daí – do outro lado. Coreografia de pulmões, nuvens negras a manchar quadro, pingos d'água pra abençoar, soul pra embalar... mas e do lado de lá? Qual letra e qual música, qual o balançar das pernas. Há de se balançar. Qual trajeto do suor em na pele morena. Aqui há de tudo parar naqueles breves segundos eternos e imaginar a nota da chuva na janela do lado de lá.

Sabor Tinto Seco



Cenas de noites e brinde em grafite, branco e preto, no papel de pão feito storebook. Badala a milésima meia-noite com som de taças e sabor tinto seco. Baladas bregas em cordas prestes a pocar. Cordas vocais prestes a gritar À amores sabor tinto seco.

vinho,copo,brinde
-aos amores que nunca saberão que são amados
tin tin
um gole
         uma voz
                  um violão
minha fala
         sua emoção
                     palmas pra nós
nossas noites sempre terminam com uma boa canção... (http://acropolesrd.blogspot.com/)

domingo, 23 de maio de 2010

Algum detalhe

malas postas - a descançar no chão
conversa sem filtro; fumaça sem fogo
a música velha em constante execução
meu filme repetidorepleto 
...sem final

sábado, 22 de maio de 2010

Insônia de qualquer dia desses

Atei-me em meu saudosismo típico de fim de noite de semana. Passei com meus devaneios por mim diversas vezes. Me vi ali, remoendo em canção algo que já nem me lembro mais. Ou um pouco mais distante, com uma camisa beje e um copo na mão, falando teorias de amor que já não concordo mais. Naquele outro lugar, encostado e rindo da piada que não me arranca mais riso. E um pouco mais adiante, deitado e um tanto sério com o que agora me arranca as risadas em débito. Lembrei de papo sério com gargalhada. Lembrei de insônia sem vir a mente o porquê. Me vi por aí, e só assim entendo o de ontem em diante.
***
Atei-me em minha esperança típica de fim de noite de semana. Apressei meus devaneios por mim mesmo diversas vezes. Me verei ali, remoendo em canção algo que nem sei agora o que é. Ou quem sabe mais distante, com uma camisa qualquer e um copo na mão, falando teorias de amor que não penso hoje. Quem sabe em outro lugar, encostado e rindo da piada que ainda não aconteceu. E ainda mais pra lá adiante, deitado e um tanto sério com o que agora me faz rir até tarde. Poderá ser. Poderá ser do meu porquê a insônia de qualquer dia desses. Me vejo por aí, e ainda assim não entendo nada.

sábado, 15 de maio de 2010

Trabalho silencioso


A noite começa a cair e; aqui, por entre neblina e ruídos, estive a observar tudo que estava a me tirar de orbita. Eu pude ver o jogo de cartas e pedras formar-se em imagens com mais cores e dimensões. Aqui não há barulho ou cheiros. Poucas vozes, um pouco de frio - apesar da testa suada. Há um abismo estranho e questionador entre sorrisos. Sinto-me distante de mim, a ponto de me ver flutuar ao olhar um pouco mais acima ou dentro de alguns olhos. Não há lacuna, mas revés. Um excesso de velhos pés em novo chão. Está nas previsões, no discurso e, quem sabe, em mim.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ombros



Perdi-me nos acordes altos de algumas gargalhadas, no vento da praia na madrugada, em conversa de vitrine. Esqueci de maio. Esqueço o dia todos os dias, contei cada data em fatos (o 'f', na verdade, é opcional). Talvez eu não tenha descrito muito os batuques de garrafa vazia ecoando pro mar, ou lua cansando-se com lagoas temporárias em monte de areia cercadas de nossas químicas. Eu não sei de hoje. Não vou passar maio esperando por junho. O Ontem foi meu acaso (palavra que casa com destino), meu dia-a-dia, minha cafeína, minha trilha, latidos, fadiga. Foi aquele slogan, logo acima, agora visto num riso qualquer de quintas-feira. A singularidade de meus credos, multiplicidade de meus ombros, infinidade das novas palavras.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ar


Numa ânsia estranha e inquieta de por em palavras o que a pouco me furtou minutos e me pôs preso em celas de garoa e paredes de nuvens acinzentadas. Estava vagando por devaneios dos últimos dias. Minhas cenas mais pareciam videos de músicas antigas em reprises de fim-de-tarde de domingo em canais destes. Contabilizando minutos de mundo-da-lua para cada um – não consigo contabilizar agora – sorriso. Já me enrolei nessas novas tramas impulsionado por um novo gás e nada me falta de fora pra dentro. Os meus toques, meu papo e meu perdido jeito de levar dia após dia. Minha noite de lembranças, cupidos, siglas e sangue aparentemente fervente ao circular próximo do coração. Músculo mais pulsante: a lembrança. Há as vozes que ainda arrepiam-me e os sinais que me acordam tirando-me do sonho e colocando-me em outro, desta vez de olhos abertos. As minhas noites ganhas, os desabafos, o velho jogo da época dos quinze e, todos os demais joguetes do cotidiano embalado pelo velho sentimento que, por vezes, tira-me o ar e põe-me a pairar – agora me desprendo da realidade e me imagino levitando – por entre os corredores. Eu mau sei o que faço, mas tenho consciência que gosto. E quando assim faço o que gosto, o que creio, me sinto mais parecido comigo mesmo.

domingo, 2 de maio de 2010

Camarada

Corre em nossas veias, corre em algumas noites, em alguns sons, escorre de alguns copos ou do canto dos olhos. A proximidade imposta, o sentimento. É como descrever um embalo de almas irmãs sem falar dos ritmos. É como parar pra pensar no futuro sem conseguir dissociar o passado. É um não entender mútuo de ausência. Transcender o papo de boteco aos ombros molhados. É um não saber se responder para ensaiar a fala do próximo reencontro. Além de degraus de escada sinuosas, de nome em pedaços de papeis. Uma incógnita, um queira, um dever ser, um encarar que começa a ser ensaiado. São todas as respostas e a ausência de perguntas.